quinta-feira, 25 de maio de 2017

A sinistra história do Maníaco do Trianon, serial killer de SP

Conheça a trajetória do garoto de programa que atuava em um parque de São Paulo e amarrava e esfaqueava seus clientes


1) Fortunato Botton Neto (1967-1997) afirmava ter nascido na capital paulista e fugido de casa ainda criança. Viveu de esmolas na rua e alegou ter sido estuprado por um caminhoneiro quando tinha 8 anos. Foi daí que, segundo ele, teria surgido sua raiva incontrolável por pessoas fisicamente mais fortes.
2) No início dos anos 80, começou a atuar como garoto de programa nos arredores da av. Paulista. Um dos seus “pontos” era o parque Trianon. A aids estava no auge, havia muita homofobia e o envolvimento com drogas deixou Botton com problemas financeiros.
3) Em outubro de 1987, o corpo de um psiquiatra foi encontrado em seu apartamento pela empregada. Estava com pés e braços amarrados na cama, uma meia na boca, facadas no pescoço, tórax e abdômen e, segundo a autópsia, uma alta dose de álcool no sangue. Foi a primeira vítima de Botton, em busca de dinheiro.
4) Cinco assassinatos cometidos por ele foram investigados oficialmente entre 1987 e 1989. Os alvos eram clientes antigos e novos. Tinham entre 30 e 50 anos e, geralmente, moravam sozinhos. O maníaco agia sempre do mesmo modo: bebida para entorpecer, imobilização, estrangulamento e facadas.
5) O preconceito atrapalhou bastante as investigações. Como muitas das vítimas não eram assumidas, algumas famílias tentavam varrer o caso para debaixo do tapete. A própria polícia só foi se empenhar mesmo quando um investigador relacionou os diversos crimes, estabelecendo que se tratava de um serial killer.
6) Em busca de grana, o garoto de programa passou a chantagear um estudante, exigindo pagamentos periódicos para não revelar a sexualidade do rapaz. O jovem, porém, recorreu à polícia, que armou uma tocaia. Botton foi preso em flagrante, por extorsão, em junho de 1989.
7) A investigação já havia rendido à polícia o nome e a descrição do assassino. Além disso, ele deixara uma impressão digital no quarto da primeira vítima e usara o telefone dela para fazer uma ligação (posteriormente rastreada). Concluiu-se que Botton era o maníaco que buscavam.

QUE FIM LEVOU?
Botton confessou dez mortes, mas foi condenado a 8 anos de prisão só por cinco delas. Em 1997, ainda preso, morreu de broncopneumonia, decorrência da aids.

FONTES Sites VEJA e Serial Killer, livro Dias de Fúria, de Roldão Arruda, e documentário Instinto Assassinodo canal Discovery

Já havia impeachment na Idade Média – e os motivos eram os mesmos

Nobre, diplomata, militar, bem nascido. William Latimer era um sujeito da elite da Inglaterra medieval, desses que tiveram a sorte de chegar ao mundo filhos de barão. Mas não do tipo que esperava passivamente as benesses e pujanças que a vida lhe reservava.

Nascido em 1330 em Scampston, atualmente uma vila de 300 habitantes em North Yorkshire, Latimer foi para a França participar da Guerra dos Cem Anos, o grande conflito entre ingleses e franceses do qual brotaram Joana D’Arc e a centenária rixa entre os dois países. Aos 16, ele participou da Batalha de Crécy, uma das grandes vitórias inglesas no início da guerra. Depois, trabalhou em Calais, cidade portuária francesa atualmente mais lembrada pela “selva” de refugiados amontoados em acampamentos improvisados até 2016 do que pelo período em que foi dominada pelos monarcas ingleses — como consequência da batalha em que nosso amigo marcou presença.

Quem pode tem brasão. Mas quem disse que isso basta? (Reprodução/Reprodução)

Latimer virou cavaleiro, serviu na Gasconha, lutou na Batalha de Auray (1364) e voltou à Inglaterra para iniciar sua ascensão política. Agora quarto barão Latimer, ele teve altos cargos na Royal Household, organização de suporte à família real em atividades oficiais. De quebra, conseguiu levar o genro, John Neville, o terceiro barão Neville de Raby, na mesma bocada. Nepotismo nunca é demais, não é mesmo?
Ao longo da década de 1370, o barão era tido em alta conta na corte do rei, Eduardo III. A pretensão do monarca ao trono francês, além dos interesses comerciais na lã de Flandres (na atual Bélgica), território que na época pertencia aos franceses, foram o estopim da guerra, três décadas antes.
Latimer era querido, em particular, por outro duque, o de Lancaster, que tinha a providencial vantagem de ser filho de Eduardo III. Não o herdeiro do trono, mas o terceiro que chegou à idade adulta (ou seja, sem a pressão de se preparar para o trono, mas com todas as vantagens de ser, bem, filho do rei). João de Gante, como ficou conhecido depois de virar personagem da peça Ricardo II, de Shakespeare, foi um dos homens mais ricos de seu tempo. Nascido em Gent (ou Gante), em Flandres, João também era veterano da guerra — convenhamos, quando se vive na época de uma guerra de 116 anos, devia ser difícil alguém não ter alguma ligação com ela. Ele teve grande influência no reinado do pai e no do sobrinho, Ricardo II, que assumiu o trono aos 10 anos (e, justamente por isso, acabou inspirando Shakespeare).

João de Gante nunca foi rei, mas é ancestral de monarcas ingleses, espanhóis e portugueses (Domínio Público/Reprodução)
João pode nunca ter tido o poder, porém cercou-se dele por toda a vida. Casou-se com Constança de Castela, e usou isso para tentar tomar o trono ibérico. Fracassou, mas casou sua filha com o nobre que se tornaria rei de Castela e Leão. Também se meteu em rixas reais entre portugueses e espanhóis e, de volta à Inglaterra, acabou se tornando ancestral direto dos homens que reinaram o país entre 1399 e 1471, os Henriques IV, V e VI (e também de reis portugueses e espanhóis nas gerações vindouras).
Foi com esse poderoso fazedor de monarcas que o barão Latimer se meteu. Antes um servidor dedicado à coroa, o barão agora passava tempo demais com João e o resto da turma, numa mistura de Onze Homens e Um Segredo com Robin Hood, sem a parte honrada da história.
Além de seu estimado genro, o barão Neville de Raby, havia um comerciante chamado Richard Lyons, sujeito com uma influência, digamos, meio a par das leis, meio aeciana, nas ruas de Londres. Entre tantos toma-lá-dá-cá, “tem que manter isso aí” e “tamo juntos”, ele chegou a ser eleito xerife da capital. Por fim, temos a amante do rei, Alice Perrers, dona de dezenas de propriedades ao redor do país, uma negociante astuta que usou as mínimas funções sociais permitidas a mulheres da época (como ser amante) a seu favor: em vez de apenas usufruir os mimos e torrar a grana que ganhava, transformava isso em renda. E gostava de ouro. Reza a lenda que ela teria surrupiado o anel do monarca de sua mão morta antes mesmo de o cadáver esfriar.

Alice Perrers e Eduardo III, na versão de Ford Madox Brown (1821-93). (Domínio Público/Reprodução)

Resumo da ópera do malandro: o reinado de Eduardo III foi uma beleza no começo, com vitórias sobre os franceses, um vistoso desenvolvimento militar e político, com um Parlamento em evolução e instituições mais respeitadas. Mas, no fim de seus 50 anos de trono, a corte estava podre, naufragada em corrupção – boa parte dela praticada pela turma do barão .
Em 1376, o Parlamento precisou tomar uma iniciativa. Latimer, Neville, Lyons e Perrers foram julgados. Ela foi banida do reino e perdeu suas propriedades. Latimer e Lyons conseguiram o nada honrado feito de serem os primeiros homens a sofrerem impeachment na história do país. Lyons foi destituído dos cargos que ocupava na Casa da Moeda e no Conselho Real, e se mudou para a prisão da Torre de Londres.
A sensação de justiça foi tão plena que a câmara, naquele ano, ficou conhecida como o Bom Parlamento. Naquele mês de maio, a sociedade sorria, satisfeita, com o fim da corrupção.

Isso sim que é tríplex: o castelo que Latimer vendeu aos inimigos franceses (Divulgação/Divulgação)
Mas não durou muito. Seis meses depois, Latimer foi perdoado. No ano seguinte, o rei morreu e João de Gante usou sua influência. Conseguiu liberar Lyons, que já em 1380 foi eleito para o mesmo Parlamento que o condenara três anos antes. Latimer também se safou: voltou a Calais, agora como governador.
Fim.


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***
PS.: Em 1381, na Revolta Camponesa de Londres, Lyons foi decapitado. Sua cabeça foi carregada e exibida pela cidade em um poste.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Delação premiada existe desde a Idade Média e foi usada na Inconfidência Mineira

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Um dos principais mecanismos utilizados pela Operação Lava Jato, a delação premiada tem origens nos tempos da Idade Média. Os registros vêm desde a época da Inquisição, quando a Igreja Católica perseguiu praticantes de outras religiões, que eram considerados hereges.
Além das denúncias, que podiam ter como base rumores ou acusações públicas, o sistema inquisitório dava extrema importância para a confissão do acusado, que podia ser alcançada por meio de uma promessa de recompensa ou até mesmo pelo uso da tortura. Quem delatava sob tortura, inclusive, era bem visto pela sociedade.
“Na Inquisição, a ideia era de que o autor do crime era inimigo do inquisidor, portanto ele podia usar todos os poderes para obter uma confissão, inclusive utilizando tortura”, explica Gustavo Badaró, professor de Processo Penal da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo).
Para Badaró, o conceito moderno da delação premiada –que é o utilizado na Lava Jato– tem “uma clara inspiração inquisitória ao utilizar o autor do crime para provar a ocorrência do delito cometido por ele e seus comparsas”. “Na verdade, a delação da Lava Jato é algo vintage”, brinca Badaró.
“Havia [na Inquisição] uma pressão psicológica. A pessoa sabia que, se não contasse algo que interessasse ao inquisidor, ela corria riscos –como queimar na fogueira, inclusive”, destaca o professor.
E hoje, a delação é feita nesse mesmo contexto? Para Badaró, existe uma “tortura moderna, uma tortura psicológica” por trás da relação existente entre prisões cautelares e a confissão por meio da delação.
“Esse é um problema sério –caso de pessoas que estavam presas, fizeram inúmeros pedidos de liberdade provisória e assim que acenam a possibilidade de firmar um acordo de delação premiada são postas em liberdade”, defende o professor. É esse o caso, por exemplo, do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que deixou a cadeia em 2016, após passar um ano e meio em cárcere.
As delações na História
No Brasil, segundo Badaró, o primeiro registro oficial do conceito que conhecemos hoje como delação premiada é de 1603, nas Ordenações Filipinas, conjunto de leis espanholas que vigorou em terras brasileiras durante o período da União Ibérica.
Estava previsto nessas leis o crime de lesa-majestade, descrito como “traição cometida contra a pessoa do Rei, ou seu Real Estado”. Existia também o perdão ao delator, como descreve o texto: “por isso [delação] lhe deve ser feita mercê [favor, benefício], segundo o caso merecer, se ele não foi o principal tratador desse conselho e confederação” –ou seja, caso o delator não fosse o líder do movimento conspiratório.
Badaró explica que foi dessa lei que se valeu o coronel Joaquim Silvério dos Reis, que estava endividado com a Coroa e decidiu delatar os inconfidentes mineiros para ter sua dívida perdoada.
“Além de não ser punido com a pena de morte, dois anos depois foi a Lisboa e recebeu o foro de fidalgo da Casa Real, além de uma pensão anual de quatrocentos mil réis”, conta o professor.
Outros registros importantes aparecem já nos anos 90, com as leis dos Crimes Hediondos, dos Crimes Contra Ordens Tributárias e a Lei de Lavagem de Dinheiro.
“[Essas leis] que tratavam da delação premiada se limitavam ao benefício, à redução da pena, que ao final do processo o juiz podia aplicar a quem delatou”, ressalta Badaró, destacando que não havia um consenso sobre qual procedimento deveria ser seguido pelas duas partes –o delator e o Ministério Público.
Isso mudou apenas em 2013, com a Lei 12.850, que definiu as organizações criminosas e mudou a regulamentação dos acordos de delação.
“Houve maior amplitude desse procedimento e maior liberdade de negociação. Se antes só se falava em redução de pena, agora se fala da possibilidade de aplicação de regimes diversos. Além disso, agora existe o pré-acordo e a necessidade da homologação”, afirma Alamiro Velludo, professor de Direito Penal da Faculdade de Direito da USP.
Essas mudanças, segundo ambos os professores, dão mais segurança para que tanto o delator quanto o Ministério Público possam fazer uso da delação premiada.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Seria possível descobrir e sequenciar o DNA de Jesus Cristo?


Publicado no Mega Curioso
A figura de Jesus Cristo é bastante popular mesmo entre aqueles que não são religiosos. Entretanto, sua existência pode ser tanto um mito da Igreja para reafirmar seus valores quanto algo que realmente aconteceu. A resposta para isso, porém, depende apenas da sua fé. Agora, vários pesquisadores e religiosos tentam buscar evidências concretas da (possível) passagem de Cristo pela Terra. Será que tem como?
Um dos maiores entusiastas no assunto é o arqueólogo búlgaro Kasimir Popkonstantinov. Em 2010, ele descobriu uma caixinha que ele acredita conter os ossos de ninguém menos que São João Batista, um dos mais importantes santos da igreja cristã. Outra urna, encontrada ao lado desse relicário, continha a inscrição “Que Deus te salve, servo Tomé. Para São João”. A descoberta é importantíssima, já que João Batista foi um dos primeiros seguidores de Cristo e, além disso, era seu PRIMO. Logo, eles certamente compartilhavam características do DNA.
Popkonstantinov escavava os restos de uma igreja do século VI, na ilha de Sveti Ivan, no Mar Morto, que havia sido construída sobre uma basílica do século anterior. Ao vasculhar a área do altar, o pesquisador encontrou um pequeno relicário de mármore com os possíveis restos do santo. Durante o século V, as igrejas só eram consideradas sagradas se guardassem a relíquia de algum santo ou religioso fervoroso.
Kasimir Popkonstantinov mostra relicário que conteria ossos de São João Batista
Dúvidas e problemasO sequenciamento do código genético em fragmentos de ossos muito antigos ainda está começando a acontecer. Porém, mesmo que o DNA pudesse ser determinado no achado de Popkonstantinov, quem garante que o relicário pertenceu realmente a São João Batista? E como isso comprovaria a existência de Cristo?
Outro problema é que o DNA ideal necessitaria não ter tido contato com o de nenhuma outra pessoa – o de um osso enterrado no solo, por exemplo. No caso desse relicário, é muito provável que vestígios de quem manuseou os ossos para colocá-los na caixinha possam ter se misturado ao próprio DNA dos fragmentos ósseos, gerando dúvidas quanto a sua legitimidade.
Atualmente, é possível distinguir e retirar vestígios contaminantes, mas é bem mais difícil, principalmente porque o DNA se degrada com o tempo. Também é possível tentar mapear o genoma de dentro dos fragmentos ósseos, onde seria mais difícil uma influência de fatores externos.
Relicário foi achado em ruínas de igreja do século VI
DNA e arqueologia
A arqueologia está começando a usar o sequenciamento genético em seus estudos. George Busby, pesquisador e geneticista da Universidade de Oxford que acompanhou as buscas de Popkonstantinov, acredita que o DNA pode influenciar de duas maneiras: através da comparação dos DNA de diferentes relíquias e do rastreamento de suas origens geográficas.
Por exemplo: se outro artefato for encontrado como supostamente pertencente a São João Batista, seria possível comparar as duas amostras de DNA e ver se elas possuem semelhanças. O mesmo aconteceria caso fossem encontrados objetos que tivessem pertencido a Jesus Cristo, já que ambos eram primos.
Até agora, os ossos achados por Popkonstantinov foram datados com aproximadamente 2 mil anos através de carbono-14 – algo animador para a pesquisa. Já a análise de DNA se mostrou muito semelhante à dos habitantes atuais do Oriente Médio, indicando uma possível contaminação do material original.
Sequenciamento de DNA encontrado em relicário mostra uma possível contaminação por quem manuseou o artefato
Nem tudo está perdido
Geneticistas já encontraram diversos traços diferentes de DNA no Santo Sudário, que supostamente cobriu Jesus Cristo após sua crucificação. Também está em processo de sequenciamento genético o material encontrado no ossuário de Tiago, que muita gente acredita ter guardado os ossos do irmão de Cristo.
Caso seja possível mapear todas essas amostras e compará-las futuramente, poderíamos, quem sabe, traçar um paralelo entre todas essas relíquias e também entre potenciais descendentes dessas pessoas. Além, é claro, de determinarmos o DNA da família de Cristo e, quem sabe, dele próprio! Resta-nos esperar para crer ver.
Vi no Pavablog

Asteroide que dizimou dinossauros ‘não poderia ter caído em pior lugar’

Resultado de imagem para Extinção dinossauros



Está cada vez mais claro para cientistas que o asteroide de 15km de diâmetro responsável pela extinção dos dinossauros não poderia ter atingido a superfície da Terra em um pior lugar.

Pesquisadores perfuraram rochas do oceano do Golfo do México que foram atingidas pelo asteroide há 66 milhões de anos e trazem novos dados sobre o evento que dizimou os répteis pré-históricos.
Os últimos achados foram resumidos num documentário da BBC Two transmitido nesta segunda-feira.
O asteroide atingiu uma área relativamente rasa do mar, chocou-se com as rochas de gesso mineral liberando quantidades colossais de enxofre na atmosfera o que prolongou o período de “inverno global”. Os gases de enxofre são altamente tóxicos e densos. Se o asteroide tivesse caído num outro local, o resultado poderia ter sido diferente.
“É aí que está a grande ironia da história, porque no final das contas não foi o tamanho do asteroide, a escala da explosão ou seu impacto global que levou à extinção dos dinossauros; foi onde o impacto ocorreu”, disse o biólogo evolucionista Ben Garrod, que apresenta The Day The Dinosaurs Died (O dia que os dinossauros morreram), com a paleontologista Alice Roberts.
“Se o asteroide tivesse caído momentos antes ou depois, em vez de atingir a costa de águas rasas ele poderia ter se chocado com o oceano profundo”, continua o pesquisador.
“Um impacto nos oceanos Atlântico ou Pacífico significaria muito menos rochas vaporizadas – incluindo o mortal gesso. A nuvem seria menos densa e a luz do sol poderia ter chegado à superfície do planeta, ou seja, o que aconteceu poderia ter sido evitado”.
“Naquele mundo frio e escuro, a comida nos oceanos acabou em uma semana, e os alimentos em terra firme, pouco depois, interrompendo subitamente a cadeia alimentar. Sem nada para comer em lugar algum do planeta, os imponentes dinossauros tiveram pouca chance de sobrevivência”.
Entre abril e maio de 2016, Ben Garrod esteve na plataforma de perfuração localizada a 30km de distância da Península Yucatan, no México, onde uma expedição milionária investiga o evento histórico. Enquanto isto, Alice Roberts visitou áreas de escavações de fósseis nas Américas para entender melhor como a vida mudou de rumo após o impacto.
Da plataforma, foram coletados núcleos de rochas a 1,3km de profundidade no mar do golfo. O material vem de uma área da cratera chamada “anel de pico”, formações rochosas que se elevaram e rodearam o centro da cratera após a grade colisão.
Com a análise de suas propriedades, a equipe do projeto de perfuração, coordenada pelos professores Jo Morgan e Sean Gulick, espera reconstruir o desenrolar do impacto e as mudanças ambientais decorrentes dele.

Cratera Chicxulub – O impacto que mudou a vida na Terra
Pesquisadores hoje têm uma noção melhor da escala da energia liberada pelo impacto do asteroide na Terra – o equivalente a 10 bilhões de bombas atômicas de Hiroshima.
Eles também têm mais conhecimento sobre como a depressão assumiu a estrutura que observamos hoje e como ocorreu o retorno da vida ao local do impacto.
Umas das sequências fascinantes do programa da BBC Two mostra a visita de Alice Roberts a uma pedreira de Nova Jérsei, nos Estados Unidos, onde 25 mil fragmentos de fósseis foram descobertos – uma evidência da morte em massa de criaturas que ocorreu no dia do impacto.
“Todos os fósseis têm uma camada que não tem mais de 10cm de largura”, contou a Roberts o palenteologista Ken Lacovara.
“Eles morreram de repente e foram enterrados rapidamente. Isto mostra que foi um momento específico no período geológico. Pode ter durado dias, semanas, talvez meses; mas não milhares de anos ou centenas de milhares de ano. Foi um evento essencialmente instantâneo”.

Vi no Pavablog

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Mecanismo de Antikythera: o objeto mais misterioso da história da tecnologia

El mecanismo de Anticitera
Frágil, intrigante e cheio de surpresas: item 15.087 do Museu Arqueológico Nacional em Atenas
Se não fosse uma forte tempestade na ilha grega de Anticítera (ou originalmente, Antikythera), há mais de um século, um dos objetos mais desconcertantes e complexos do mundo antigo muito provavelmente jamais teria sido descoberto.
Após buscar abrigo na ilha, um grupo de catadores de esponjas marinhas decidiu tentar a sorte naquelas águas. Eles acabaram encontrando os restos de uma galé romana que havia naufragado havia dois mil anos, quando o Império Romano começou a conquistar as colônias gregas no Mediterrâneo.
Nas areias do fundo do mar, a 42 metros de profundidade, estavam itens de grande valor. De início, as peças, danificadas após anos no mar, ficaram esquecidas. Mas em seguida um olhar mais atento mostrou que eram objetos feitos com esmero, engrenagens talhadas à mão.
Cara de una estatua griega en la arena
Image captionUm tesouro no fundo do Mediterrâneo
Estatua grega
Image captionObras incomparáveis que sobreviveram aos saques feitos por romanos e à ação da água
Entre belas estátuas de cobre e mármore, estava o objeto mais intrigante da história da tecnologia. Trata-se de um instrumento de bronze corroído, do tamanho de um laptop moderno, feito há 2 mil anos, na Grécia antiga. É conhecido como máquina (ou mecanismo) de Anticítera.
"Se não tivessem descoberto a máquina, ninguém teria imaginado, ou nem mesmo acreditado, que algo assim existisse, pois é muito sofisticada", disse à BBC o matemático Tony Freeth, da Universidade de Cardiff. "É um mecanismo de genialidade surpreendente".
Há divergências sobre a data exata da descoberta, mas isto teria ocorrido entre 1900 e 1902.
detalhe
Image captionNo começo o artefato não dizia nada aos cientistas, mas eles logo notaram que as peças traziam marcas e inscrições
"Imagine: alguém, em algum lugar da Grécia antiga, fez um computador mecânico", afirma o físico grego Yanis Bitzakis.
Ambos integram a equipe internacional que investigava o artefato. E eles não estão exagerando nas descrições. Levou cerca de 1,5 mil anos até que algo parecido com a máquina de Anticítera voltasse a aparecer, na forma dos primeiros relógios mecânicos astronômicos, na Europa.

Vanguarda

Em 1950, o físico inglês Derek John de Solla Price foi o primeiro a analisar em detalhes os 82 fragmentos recuperados. Anos depois, em 1971, juntamente com o físico nuclear grego Charalampos Karakalos, foram feitas imagens das peças com raios-X e raios gama, que mostraram como o mecanismo era complexo: com 27 rodas de engrenagem no seu interior.
diseño 27 ruedas de engranaje
Image captionA primeira surpresa: o mecanismo era formado por 27 engrenagens
Os especialistas conseguiram datar algumas outras peças com precisão, entre os anos 70 a.C. e 50 a.C. Mas um objeto tão extraordinário não podia ser daquela época, pensavam os especialistas. Talvez fosse mais moderno e tivesse caído no mesmo local por casualidade.
"Se cientistas gregos antigos podiam produzir esses sistemas de engrenagens há dois milênios, toda a história da tecnologia do Ocidente teria que ser reescrita", diz o matemático Freeth.
Grego antigo examinando o céu
Image captionNúmeros que começaram a surgir coincidiam com os conhecimentos dos gregos da época

127 e 235 dentes

Solla Price deduziu que contar os dentes em cada roda poderia fornecer pistas sobre as funções da máquina. Ele, então, chegou a dois números que fazem sentido na astronomia: 127 e 235.
"Esses dois números eram muito importantes na Grécia antiga", diz o astrônomo Mike Edmunds.
Os gregos sabiam como os corpos celestes se moviam no espaço, podiam calcular suas distâncias da Terra e a geometria de suas órbitas.
Os 19 anos solares são exatamente 235 meses lunares, o chamado ciclo Metônico - um dos números encontrados no artefato. Já o outro número, 127, mostrava as revoluções (ou movimentos elípticos) da Lua ao redor da Terra.
Seria possível que os gregos antigos estivessem usando a máquina para seguir o movimento da Lua?
Quantos dias em um ano solar
Image captionAs contas não fechavam se apenas um ano solar fosse levado em conta, mas em um ciclo de 19 anos...
As fases da Lua eram extremamente úteis na época dos gregos antigos. Com base nelas, determinavam-se épocas de plantio, estratégias de batalha, festas religiosas, momentos de pagar dívidas e autorizações para viagens noturnas.
Price desvendou o artefato após 20 anos de intensas pesquisas, mas ainda havia peças do quebra-cabeça por encaixar.
engrenagem de perto
Image captionEngrenagens identificadas pelos cientistas não estavam encaixadas, e montar o quebra-cabeças demandou muito trabalho

O futuro 223

O passo seguinte demandou tecnologia sob encomenda. A equipe dedicada a estudar a máquina convenceu o engenheiro de raios-X Roger Hadland a criar um equipamento especial para fazer imagens do mecanismo. Com isso, encontraram outro número chave: 223 era o número de outra roda do mecanismo.
Por volta de 600 a.C., astrônomos babilônios antigos descobriram o ciclo de Saros, no qual a Lua e a Terra voltavam a se encontrar a cada período de 223 luas (18 meses e 11 dias), o que prevê a ocorrência de eclipses.
A máquina de Anticítera, portanto, podia prever eclipses. Não apenas o dia, mas a hora, direção da sombra e cor com a qual a Lua apareceria.
Tabela babilonia
Image captionGraças a milhões de tabelas com dados históricos que arquivaram ao longo do tempo, babilônios encontraram o padrão dos eclipses
"Quando havia um eclipse lunar, o rei babilônio deixava o posto e um substituto assumia o poder, de modo que os maus agouros fossem para ele. Logo o substituto era morto e o rei voltava a assumir sua posição", conta John Steele, especialista sobre a Babilônia no Museu Britânico.
eclipses
Image captionInformações sobre eclipses que pesquisadores encontraram na máquina de Anticítera são surpreendentemente sofisticadas

Tudo dependia da Lua

Os pesquisadores chegaram a mais uma maravilha.
O ciclo Saros depende do padrão da Lua, mas "nada sobre a Lua é simples", diz Freeth.
"A Lua tem a órbita elíptica, assim ela viaja mais rapidamente quando está mais perto da Terra", exemplifica.
Podia então a máquina de Anticítera rastrear o caminho flutuante da Lua?
rodas de engrenagem
Image captionUm mecanismo complexo para desvendar os caprichos da Lua
Sim, podia: duas engrenagens menores, uma delas com uma pinça para regular a velocidade de rotação, replicavam com precisão o tempo da trajetória que o satélite natural executa ao redor da Terra; e outra, com 26 dentes e meio, computava o deslocamento dessa órbita.
Ao examinar a parte frontal do aparelho, os investigadores concluíram que ele demonstrava como os gregos entendiam o Universo naquele momento: a Terra no centro e cinco planetas ao redor.
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Image captionO movimento dos cinco planetas que podiam ser vistos a olho nu: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno
"Era uma ideia extraordinária: pegar teorias científicas da época e mecanizá-las para ver o que aconteceria dias, meses e décadas depois"diz o matemático.

Mais um enigma

"Essencialmente, foi a primeira vez que a raça humana criou um computador", acrescenta Freeth. "É incrível como um cientista daquela época descobriu como usar engrenagens para rastrear os complexos movimentos da Lula e dos planetas".
Mas quem foi esse cientista?
Uma pista estava em outra função da máquina.
O aparelho também previa a data exata dos Jogos Pan-Helênicos: quatro festivais separados que se realizavam periodicamente na Grécia Antiga: Jogos Olímpicos, ou de Olímpia, Jogos Píticos, Jogos Ístmicos e Jogos Nemeus.
O curioso é que embora os Jogos de Olímpia tivessem mais prestígio, os Jogos Ístmicos, em Corinto, apareciam em letras maiores.
ilustração em cerâmica dos Jogos Ístmicos
Image captionChamava a atenção o destaque aos jogos que eram celebrados no istmo de Corinto a cada dois anos, em homenagem a Poseidon, deus grego do mar
Os investigadores já tinham notado que os nomes dos meses que apareciam em outra engrenagem da máquina eram coríntios.
As evidências sugeriam que o criador da máquina era um coríntio que vivia na colônia mais rica governada pela cidade: Siracusa.
Siracusa era lar do mais brilhante dos matemáticos e engenheiros gregosArquimedes.
Trata-se, talvez, do cientista mais importante da Antiguidade clássica, que determinou a distância da Terra à Lua, descobriu como calcular o volume de uma esfera, o número fundamental π (Pi) e havia garantido que moveria o mundo com apenas uma alavanca.
"Só um matemático brilhante como Arquimedes poderia ter desenhado a máquina de Anticítera", opina Freeth.
ArquimedesDireito de imagemGETTY IMAGES
Image caption"Dê-me um ponto de apoio e moverei o mundo"
Sabe-se que Arquimedes estava em Siracusa quando os romanos conquistaram a cidade, e que o general Marco Claudio Marcelo havia ordenado que o cientista não fosse morto, mas um soldado acabou assassinando-o.
Siracusa foi saqueada e seus tesouros foram enviados a Roma. O general Marcelo levou consigo duas peças - ambas, diziam, eram de Arquimedes. Os investigadores acreditam que fossem versões anteriores da máquina.
Um indício está em uma descrição que o orador Cícero fez, séculos depois, de uma das máquinas que ele observou de Arquimedes:
"Arquimedes encontrou a maneira de representar com precisão, em apenas um aparato, os variados e divergentes movimentos dos cinco planetas com suas distintas velocidades, de modo que o mesmo eclipse ocorre no globo (planetário) e na realidade".
Planetario
Image captionCícero descreveu um planetário semelhante ao da máquina de Anticítera
Mas o que aconteceu com a brilhante tecnologia da máquina? Por que ela se perdeu?
Como tantas outras coisas, com a queda da civilização grega e, mais tarde, da romana, os conhecimentos "imigraram" para o Oriente, onde foram mantidos por bizantinos e árabes eruditos.
O segundo artefato com engrenagens de bronze mais antigo é do século 5 e tem inscrições em árabe.
E no século 8, os mouros levaram esses conhecimentos de volta à Europa.
maquina de Anticitera
Image captionTodas as peças para introduzir os conhecimentos em uma só máquina
Investigações anteriores apontaram que a máquina estava dentro de uma caixa de madeira que não sobreviveu ao tempo.
Uma caixa que continha todo o conhecimento do planeta, tempo, espaço e Universo.
"É um pouco intimidador saber que, logo antes da queda de sua grande civilização, os gregos antigos tinham chegado tão perto de nossa era, não apenas em pensamento, mas na tecnologia científica", disse Derek J. de Solla Price.
mecanismo de Anticitera
Image captionMáquina revela o incrível desenvolvimento tecnológico da Grécia Antiga
  • O texto foi originalmente publicado no dia 3 de julho de 2016 e atualizada no dia 17 de maio de 2017.