quarta-feira, 18 de março de 2020

Como foi a luta de trincheiras na Primeira Guerra Mundial?

Nunca tanta gente morreu na lama
Foi um verdadeiro atoleiro, onde os dois lados rivais no conflito passaram anos imobilizados sem conseguir avançar no território inimigo. Iniciada em 1914 por causa de disputas econômicas e geopolíticas, a Primeira Guerra Mundial opôs as Potências Centrais (Alemanha, Império Austro-Húngaro e Turquia) contra os Aliados (França, Inglaterra, Rússia e, no fim, Estados Unidos).
Ela durou até 1918, terminando com a vitória dos Aliados, após a morte de mais de 20 milhões de pessoas! Na Frente Ocidental, as trincheiras se tornaram o centro das operações militares. Por causa delas, a Primeira Guerra viveu anos de impasse, pois nenhum dos lados tinha força suficiente para superar as linhas de defesa escavadas pelo inimigo.
“Por mais de dois anos ambos os lados em combate avançaram menos de 15 quilômetros tanto numa como noutra direção”, afirma o historiador americano John Guilmartin Jr., da Universidade de Ohio. Os campos de batalha onde ficavam as trincheiras eram um lamaçal constante e um lugar extremamente perigoso. Estudos indicam que quase 35% de todas as baixas sofridas na Frente Ocidental foram de soldados mortos ou feridos quando estavam numa trincheira!
Na maior fossa
No dia a dia dos soldados, faltava água e comida e sobravam ratos, lama e doenças
BURACO APERTADO
Uma trincheira típica tinha pouco mais de 2 m de profundidade e cerca de 1,80 m de largura. À frente e atrás, largas fileiras de sacos de areia, com quase 1 m de altura, aumentavam a proteção. Havia ainda um degrau de tiro, 0,5 m acima do chão. Ele era usado por sentinelas de vigia e na hora de atirar contra o inimigo
SEM DESCARGA
Os “banheiros” eram latrinas: buracos no chão com 1,5 m de profundidade. Quando estavam quase preenchidas, eram cobertas com terra e escavavam-se novos buracos – trabalho feito em geral por soldados que levavam alguma punição. Quando não dava tempo de chegar até a latrina, o jeito era mandar ver na cratera de bomba mais próxima…
TOCA “VIP”
A linha de frente para o inimigo não era a única trincheira. Havia outras linhas na retaguarda, interligadas por caminhos escavados na terra. Esses caminhos levavam também a abrigos usados como hospitais, postos de comando ou depósitos. Escorados por madeira, eram abrigos subterrâneos e não a céu aberto como as trincheiras
PÃO E ÁGUA
A maior parte da comida era enlatada. A ração diária do Exército inglês só dava direito a um pedaço de pão, alguns biscoitos, 200 g de legumes e 200 g de carne. Para reabastecer o cantil com água, muitos soldados recorriam a poças deixadas pela chuva… Para aliviar o sofrimento, suprimentos diários de rum, vinho ou conhaque eram oferecidos às tropas
ANDANDO NA PRANCHA
Boa parte das trincheiras foram feitas em regiões abaixo do nível do mar, onde qualquer buraco fazia jorrar água. A chuva constante piorava a situação, criando uma camada de água enlameada no chão das trincheiras. Para evitar esse barro todo, pranchas de madeira eram colocadas a alguns centímetros do solo
FOLGA BEM GOZADA
Nos períodos de calmaria, cada soldado ficava oito dias em trincheiras da linha de frente. Depois, passava quatro dias nas trincheiras da retaguarda, mais tranqüilas. Aí finalmente vinham quatro dias de folga, gozados em acampamentos militares a quilômetros do campo de batalha – muitas vezes com bordéis cheios de prostitutas na vizinhança
DE SACO CHEIO
Proteção barata e eficiente, os sacos de areia eram capazes de barrar os tiros inimigos. As balas dos fuzis da época só penetravam cerca de 40 cm neles. Eram tão úteis que cada soldado sempre carregava dois sacos vazios, que podia encher rapidamente para se proteger
VIDA INSANA
O terror da guerra e a quase insuportável vida nas trincheiras enlouquecia muitos soldados. Alguns feriam a si próprios para serem mandados de volta pra casa – fraude que, se descoberta, podia ser punida com fuzilamento! Os mais desesperados saíam da trincheira para ser mortos pelo inimigo
ATAQUE ANIMAL
Corpos em decomposição, enterrados em covas rasas perto das trincheiras, atraíam ratos, que proliferavam sem controle. Além de transmitir doenças, eles chegavam a roubar comida do bolso dos soldados e a roer o corpo dos feridos! Na total falta de higiene, piolhos disseminavam a febre das trincheiras, doença contraída por mais de 10% dos soldados
SILÊNCIO PERIGOSO
Na maior parte do tempo não havia ofensivas contra as trincheiras. Era uma guerra de espera, mas ainda assim muito perigosa. Atiradores passavam o dia de olho no vacilo de algum soldado que erguesse a cabeça pra fora do buraco. Especialistas em mineração tentavam fazer túneis até a linha inimiga para explodir as trincheiras por baixo!
ONDE ELAS FICAVAM
Conhecido como Frente Ocidental, o cenário onde as trincheiras ficaram famosas na Primeira Guerra estendia-se por cerca de mil quilômetros, indo do litoral do mar do Norte até a fronteira da Suíça. Por toda essa extensão ficavam, frente a frente, as linhas de trincheiras dos alemães e dos Aliados
No calor da batalha!
Nos difíceis ataques às trincheiras inimigas, soldados usavam até lança-chamas
PROFISSÃO PERIGO
Durante as ofensivas, os soldados eram instruídos a não parar para atender colegas atingidos. Cada um levava um kit de emergência e deveria cuidar de si até a chegada dos padioleiros, que retiravam os feridos em macas. Por causa do fogo cruzado e da lama que atrapalhava o deslocamento, era um trabalho superarriscado
FOI MAL AÍ…
O “fogo amigo” provocou grandes baixas. Na confusão que rolava durante uma ofensiva, os soldados podiam ser atingidos por metralhadoras de suas próprias trincheiras. Calcula-se que, só no Exército britânico, cerca de 75 mil soldados tenham sido mortos pela própria artilharia
TERRITÓRIO SELVAGEM
Para conquistar uma trincheira inimiga era preciso atravessar a terra de ninguém, o espaço entre as duas linhas que se enfrentavam. A distância entre as linhas variava de 100 m a 1 km, num terreno enlameado e cheio de crateras de bombas. No ataque, os soldados corriam em ziguezague para tentar escapar dos tiros
CAMINHO LIVRE
No caminho até a trincheira inimiga, era preciso driblar rolos de arame farpado com até 2 m de altura – e debaixo de muitos tiros… Para destruir essas barreiras, soldados treinados levavam um bastão de 2 m que tinha explosivos na ponta. Eles introduziam o bastão no meio do arame e detonavam o explosivo, abrindo caminho para a tropa
TOCHA HUMANA
O lança-chamas foi usado pela primeira vez em combate na Primeira Guerra. Dois homens operavam o equipamento, lançando jatos com um alcance de 25 a 40 m. Seus operadores corriam grande perigo: um único tiro no tanque de combustível e eles iam pelos ares!
TRÂNSITO CAÓTICO
As batalhas provocavam um engarrafamento nas trincheiras de comunicação, que interligavam as linhas de frente e da retaguarda. Por elas chegavam tropas de reforço e partiam feridos, além de serem transportadas munições. Na confusão, neste apertado labirinto, vários soldados se perdiam pelo caminho
TÁTICA VENENOSA
Na Primeira Guerra, mais de 91 mil soldados foram mortos por gases venenosos e outras armas químicas. Esses produtos podiam ser lançados por projéteis da artilharia ou por granadas carregadas pelos soldados. Eram usadas substâncias como o gás de cloro, que provocava asfixia nas vítimas
BOMBANDO POR TRÁS
Os soldados que avançavam contra a linha inimiga tinham apoio da artilharia. As baterias de canhões ficavam na retaguarda – cerca de 10 km atrás das linhas de frente – e disparavam pouco antes da ofensiva da tropa. Como a comunicação era precária, nem sempre a sincronia era perfeita. Às vezes bombas caíam sobre a própria tropa…
MÁQUINA MORTÍFERA
A mais poderosa arma para barrar os ataques eram as casamatas com metralhadoras. Muito usadas pelos alemães, eram minifortalezas com paredes espessas e fendas por onde a metralhadora disparava. Produziam tantas baixas que seus ocupantes eram os soldados mais odiados: um metralhador capturado geralmente era executado no ato!
SOLDADO PESO PESADO
O equipamento pessoal e o armamento dos soldados, mais ou menos comum a todos os exércitos, pesava cerca de 30 kg. O peso do equipamento atrapalhava a movimentação e vários exércitos trataram de reduzi-lo no decorrer da guerra
POR DENTRO DO LANÇA-CHAMAS
1. Um lança-chamas tinha três cilindros: dois com líquido combustível (como óleo diesel) e um com um gás inflamável pressurizado. Quando a arma era acionada, o gás entrava nos cilindros com combustível, forçando-o a sair com grande pressão pelas mangueiras
2. No corpo da arma, havia um sistema de ignição: em geral, uma resistência elétrica, acionada por bateria. Ela aquecia o líquido combustível até ele pegar fogo e sair do lança-chamas na forma de um jato incendiário

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