sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Crânios de Paracas: modificação corporal ou intervenção alienígena?

Conhecida como “deformidade de Toulouse”, essa modificação craniana artificial era praticada na França até o início do século 20 (Foto: Wikimedia Commons)
CONHECIDA COMO “DEFORMIDADE DE TOULOUSE”,
ESSA MODIFICAÇÃO CRANIANA ARTIFICIAL
ERA PRATICADA NA FRANÇA ATÉ O
INÍCIO DO SÉCULO 20 (FOTO: WIKIMEDIA COMMONS)
Se você tem acesso à internet – o que é bem provável, já que está lendo este artigo – é quase certo que já tenha esbarrado na “fantástica” descoberta de DNA alienígena em estranhos crânios humanos, deformados e pré-históricos, encontrados na região de Paracas, no Peru. E talvez esteja se perguntando, afinal, que história é essa? Se é verdade, por que não está nas manchetes dos jornais? Se não é, então o que são essas cabeças esquisitas?

Os crânios de Paracas foram descobertos em 1928, pelo arqueólogo peruano Julio Cesar Trello, que faleceu em 1947. Ao todo, foram encontradas mais de 400 múmias na chamada necrópole de Wari Kayan, localizada na região de Ica, no sudoeste do Peru.

As múmias, as cerâmicas e os tecidos encontrados em Wari Kayan pertencem à Cultura de Paracas, uma sociedade que floresceu nos Andes no primeiro milênio antes da era comum. Trata-se de um povo bem conhecido e estudado. “A Cultura da Necrópole de Paracas não é o produto de um grupo misterioso e isolado de criaturas não-humanas”, resume o arqueólogo britânico Keith Fitzpatrick-Matthews, em seu site Bad Archaeology. “Sua posição no cenário do desenvolvimento do Peru pré-histórico é bem compreendida”.

Fitzpatrick-Matthews explica, ainda, que os homens de alto status social sepultados na necrópole apresentam um tipo de deformação craniana artificial que não era incomum no mundo pré-colombiano.

Modificação corporal é algo que sociedades humanas sempre praticaram. Podem ser discretas, como furos para brincos nas orelhas, ou vistosas, como tatuagens coloridas. Deformação artificial do crânio é apenas mais uma modalidade, na qual o desenvolvimento natural da cabeça da criança é alterado pela aplicação de força – exercida por faixas de tecido ou pedaços de madeira.

A ideia de que os crânios de Paracas seriam fruto de intervenção alienígena, e não de “meras” práticas culturais humanas, tem como principal defensor David Hatcher Childress, figurinha fácil nos programas de deuses astronautas da TV a cabo. Em 2012, ele publicou um livro sobre múmias de crânio alongado, em coautoria com o guia turístico Brien Foerster, que promove, entre outros passeios, um roteiro andino chamado “Incas Ocultos”. Agora em 2014, Foerster fez um anúncio bombástico: ele diz estar de posse de resultados de “análises de DNA” que revelam que os crânios de Paracas não são humanos.

Há vários problemas com esse pronunciamento. Para citar apenas o mais óbvio, o nome dos cientistas envolvidos não é mencionado em momento algum. E o resultado é classificado como “inicial”. Uma nota divulgada por Foerster no Facebook, em 12 de fevereiro, e que segundo ele vem diretamente do “geneticista” envolvido na análise, diz que “os dados são muito incompletos, e muito sequenciamento ainda precisa ser feito”.

De minha parte, desconfio que a espera pelos dados completos, claramente expostos num artigo científico assinado por pesquisadores competentes, revisado pelos pares e publicado num periódico respeitável, será longa. Talvez mais longa que o sono das múmias de Wari Kayan.

Fonte:http://revistagalileu.globo.com/blogs/olhar-cetico/noticia/2014/02/cranios-de-paracas-modificacao-corporal-ou-intervencao-alienigena.html?fb_action_ids=735555469801748&fb_action_types=og.likes&fb_source=other_multiline&action_object_map=%5B1443295235906895%5D&action_type_map=%5B%22og.likes%22%5D&action_ref_map=%5B%5D

Nenhum comentário:

Postar um comentário