terça-feira, 4 de março de 2014

Especialistas recriam rosto 3D de Robespierre e são alvo de críticas

Trabalho apresenta líder francês com face feia, cansada, com cicatrizes e marcas de doenças como varíola e sarcoidose

Belo, robusto e saudável - é assim que pinturas e esculturas imortalizaram Robespierre, herói da Revolução Francesa guilhotinado em 1794. Mas as bochechas rosadas e o ar elegante que o revolucionário exibe nos quadros de época pode não passar de mera camaradagem dos artistas. Um grupo de especialistas reconstruiu o rosto do líder rebelde com alta tecnologia a partir de moldes da época e o resultado é uma aparência física bem diferente da versão oficial.
Reprodução

Lado a lado, versão conhecida em pinturas (esq.) e o rosto reconstituído de Robespierre: especialistas foram criticados
A reconstituição em três dimensões foi possível graças a duas máscaras feitas pela célebre Madame Toussaud logo após a decapitação do líder. O trabalho apresenta um Robespierre feio, cansado e com diversas marcas que revelam problemas de saúde. “Descobrimos mais de cem cicatrizes no total, a maioria correspondente à varíola, mas também relevos que caracterizam sintomas de sarcoidose”, explica Philippe Froesch, especialista em reconstrução facial responsável pelo trabalho, para a reportagem de Opera Mundi. “Escaneamos a máscara e determinamos a cartografia das lesões da pele do rosto”, detalha Froesch.
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Robespierre foi morto aos 36 anos, mas é possível que não vivesse muito mais do que isso, já que a sarcoidose, apesar de dificilmente levar à morte nos dias de hoje, na época ainda não era uma doença conhecida e nem tratada corretamente. As bolsas sob os olhos, as rugas e linhas de expressão demonstram também que, apesar de ainda jovem, o revolucionário vivia sob estresse constante.
Mas, a nova cara do heroi francês não agradou todo mundo. “Ele tem tem mais rugas que eu, que tenho 80 anos”, protestou uma descendente de Robespierre em entrevista para a televisão francesa. “Foi alguém mal intencionado que fez isso”, dispara. Ela não está sozinha nas acusações. O líder e fundador do Parti de Gauche (“Partido de Esquerda”), Jean-Luc Mélenchon, o quarto candidato mais votado nas últimas eleições presidenciais, foi o primeiro a reclamar da reconstituição em seu blog: “A feiúra do rosto supõe revelar a feiúra da alma”, escreveu, acrescentando que ele mesmo foi vítima de ataques à sua aparência pela líder da extrema-direita, Marine Le Pen. O secretário do mesmo partido chegou a usar a palavra “calúnia”.
Mito
Os críticos denunciam uma tentativa de descredibilizar a memória de Robespierre e alimentar o mito de um “ditador sanguinário” que sempre acompanhou a imagem do revolucionário. Robespierre foi a figura central do período conhecido como “O Terror”, quando cerca de 17 mil pessoas foram guilhotinadas. Porém, pesquisas mais recentes defendem a teoria de que ele não teve responsabilidade pelas atrocidades e não tinha uma personalidade déspota.
Froesch se diz espantado ao constatar que “responsáveis políticos são capazes de violências verbais e de análises radicais quando uma imagem não corresponde às suas expectativas e os desagrada profundamente”. O especialista já reconstituiu o rosto de outras personalidades, como o rei francês Henrique IV e Simon Bolivar.
Divulgação

Esquema mostra como especialistas reconstituíram a face de Robespierre
No entanto, não foram apenas políticos que reclamaram: historiadores também contestam a credibilidade do trabalho. Guillaume Mazeau, membro do Instituto da História da Revolução Francesa e do Comitê de Vigilância sobre o Uso Público da História, vai mais longe e afirma que a falha não é da reconstituição, mas dos moldes utilizados: “Essa máscara feita pela Madame Toussaud nunca existiu. O mais provável é que se trate de uma das diversas cópias vendidas no final do século 18.” O historiador argumenta que esta representação difere demais de todas as outras, que apresentam Robespierre com traços mais angulosos e uma cabeça mais longilínea. As descrições da época também não corresponderiam ao novo rosto.
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“Mas, o que este caso mostra, no final das contas, é como a Revolução Francesa e suas principais figuras ainda são marcos políticos e continuam fazendo parte do imaginário coletivo”, analisa Mazeau, que não imaginava que a reconstituição fosse repercurtir tanto na França e no mundo ocidental. “Eu, como historiador da Revolução Francesa, fiquei surpreso.”

Fonte:http://operamundi.uol.com.br/conteudo/reportagens/34165/especialistas+recriam+rosto+3d+de+robespierre+e+sao+alvo+de+criticas.shtml

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